sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Como você ouve música?

colaborador:

Ouvimos música em três planos. O plano sensível, o expressivo e o puramente musical.


O plano sensível nada mais é do que nos entregarmos inteiramente ao prazer de ouvir o som. Sem intelectualismos. O negócio é ouvir sem pensar. Escolha um CD que nunca ouviu talvez, por exemplo, Mozart - Ein Musikalischer Spass KV 522. Ligue seu aparelho e deite-se no chão da sua casa e feche os olhos. A percepção do som alterando seu estado mental.


Uma nota percutida no violino, quem sabe, no silêncio da sala já altera a atmosfera da sala. Um acorde, e o mundo já não é mais a mesma coisa. “O elemento sonoro tem poder”. É necessário dizer que o elemento sonoro varia de compositor para compositor. Basta ver (ouvir) a diferença entre Bach e Stravynski. O elemento sonoro varia com o estilo. Notando estas diferenças você será um ouvinte consciente.

O plano expressivo. Stravinsky dizia que sua música era um “objeto”, uma “coisa” dotada de vida própria e sem significado a não ser o musical. No entanto a música traz em si uma expressão. Essa expressão é diferente para cada pessoa que ouve ou que produz a música. Isso depende do conteúdo cultural, educacional e existencial de cada ouvinte e de cada compositor.

Agora eu pergunto: A música tem um significado?
R.: Sim.

É possível precisar qual significado é esse?
R.: Não.


Mas, as pessoas sempre acham que tudo deve ter um significado bem concreto. Portanto tire da cabeça esse negócio de relacionar a música com alguma coisa material ou específica. Não é esse o caminho.


A música em si nos diz nada, mas ela tem o poder de nos passar a sensação de que ela está nos dizendo algo. Somente o compositor sabe exatamente o que ele quis transmitir com tal obra. E novamente, a sensação, de que a música está nos dizendo algo depende do conteúdo cultural, educacional e existencial de cada ouvinte. A música que, sempre que ouvida, “diz” a mesma coisa, será mais pobre do que aquela em que, a cada audição, ouvimos uma novidade que estava escondida ou não foi percebida imediatamente. Essa última, provavelmente, durará mais tempo nos ouvidos da humanidade e esta, se tornará um clássico de repertório e o autor dessa música será consagrado.


O plano puramente musical nada mais é o plano das notas e sua manipulação. Tocar nessas notas algo que possa determinar para o ouvinte o timbre, a altura, a harmonia, o “colorido”, o ritmo, a melodia, a procura da idade em que a peça foi feita, seu contexto histórico...
Devemos lembrar que essa divisão em partes é apenas para estudo. Não se ouve música separando isso tudo. Ouvir música é somente ouvir música.


De certa maneira o ouvinte está dentro e fora da música ao mesmo tempo. Uma atitude subjetiva e objetiva está implícita na criação e na apreciação da música. Experimente agora mesmo, ouvir Mozart e Philip Glass. Ouça o Réquiem e Metamorphosis. Agora você é alguém, consciente, que está ouvindo alguma coisa. E sabe do que se trata.


Veja menos novela e ouça mais música, o tempo de duração é o mesmo. Treine a audição. Você pode começar com obras solo só piano, só violão, partir para os duetos, trios quartetos para daí seguir a complicações maiores.

A música inventada com esforço é  completamente diferente da maioria dos gêneros populares, que não fazem qualquer tentativa para alcançar uma profundidade de relacionamento e consistem principalmente em variações, de um momento para outro, em torno de um tema simples. O cérebro não pode conhecer os prazeres das relações profundas, se não há nem uma a observar.
Do livro Música, Cérebro e Êxtase.

Ney Villan é colunista do site Bandas de Garagem, guitarrista free-lancer, 
guitar coach e guitarrista da banda Pecado Capital.
 
Para saber mais sobre ele visite o My Space, ou 
vá aos shows da Pecado Capital nesse fim de semana:

21/11/09, Sábado
Cimber, São João Batista/SC.

22/11/09, Domingo
Galeão Music Bar, Canelinha/SC.


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