Mais um texto da série Jornalismo e Diploma. Texto de Julio Daio Borges, publicado originalmente no Digestivo Cultural.
A vida não está fácil para quem é jornalista no Brasil. Depois de décadas de redações se encolhendo e salários se achatando, a internet veio para tornar o profissional tecnicamente obsoleto e, agora, o STF veio para lavrar a obsolescência da profissão em cartório: para trabalhar como jornalista, não é mais necessário se formar em jornalismo (não é mais necessário ter diploma de jornalista) - o que ensejou a conclusão, entre muitos, de que, para trabalhar com jornalismo, não é mais preciso nem... ser jornalista.
Sobrou para os blogueiros, claro. Mas não é a mesma "guerra" da outra semana: não é a velha geração querendo manter o controle dos meios e a nova se rebelando, numa disputa entre o mainstream de antes e o de agora. A grita, neste momento, é mais pela sensação, entre universitários, de que o diploma - antes garantia de uma certa "reserva de mercado" - agora não é mais garantia de nada - porque, para trabalhar com jornalismo, aparentemente qualquer diploma de curso superior vale... O argumento está baseado na falta de experiência de quem não conhece o mercado de trabalho e que, portanto, não sabe que nenhum diploma é garantia de nada - em toda e qualquer profissão. A obsolescência dos jornalistas e dos futuros jornalistas (agora em formação) não é a do diploma - está mais ligada à visão romântica de que ainda existem redações de jornal, como as de cinema, quando a prática se aproxima, cada vez mais, do dia a dia dos... blogs!
Se um estudante montasse seu veículo on-line, no começo do curso de jornalismo, em alguns anos sairia melhor preparado, para a futura realidade da profissão, do que teóricos das antigas práticas, diagramando com tesoura e cola, discutindo a censura na ditadura militar, apegando-se a suportes, como o papel, virtualmente condenados... O debate, do diploma, deveria alargar suas fronteiras e abordar as verdadeiras questões - o jornalismo não é mais o que era só porque o STF decretou: o jornalismo não é mais o que era porque, no tempo, parou; e não só no Brasil, no mundo todo...
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O diploma só foi garantia para emprego certo quando não havia tantas universidades fazendo cursos medíocres...
ResponderExcluirConcordo com o Júlio Borges de que hoje nenhum diploma garante trabalho, aqui na minha cidade existem três jornais de circulação regional, e nenhum deles contrata jornalistas para realizarem o trabalho, nunca contrataram... Cada jornal tem no máximo um, e somente para assinar como responsável!
Nenhuma universidade está preparando os seus alunos para o mercado de trabalho, nem as particulares, nem as públicas... Houve um distânciamento gigante entre o mercado e a formação! O texto do Júlio trás uma discussão que todas as profissões deveriam fazer, que é teorizar e re-teorizar sobre as suas práticas, reformular as antigas linhas de pensamento, mas não abolindo o antigo, aproveitando da experiência para transformar a sua área... Discussões antigas podem trazer muito a respeito da nossa atualidade...
Porém eu só tenho a lamentar que a profissionalização dos jornalistas tenha sido caçada, isso trás para a minha área que luta pela sua profissionalização uma notícia muito ruim... não veremos cedo ainda uma carteira assinada como historiador!!!